{"id":555,"date":"2023-02-23T23:17:03","date_gmt":"2023-02-24T02:17:03","guid":{"rendered":"https:\/\/rmconsulting.com.br\/dia-nacional-das-tradicoes-das-raizes-de-matrizes-africanas-e-nacoes-do-candomble\/"},"modified":"2023-06-14T13:33:42","modified_gmt":"2023-06-14T16:33:42","slug":"dia-nacional-das-tradicoes-das-raizes-de-matrizes-africanas-e-nacoes-do-candomble","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/rmaiaconsulting.com.br\/dia-nacional-das-tradicoes-das-raizes-de-matrizes-africanas-e-nacoes-do-candomble\/","title":{"rendered":"Dia Nacional das Tradi\u00e7\u00f5es das Ra\u00edzes de Matrizes Africanas e Na\u00e7\u00f5es do Candombl\u00e9"},"content":{"rendered":"\t\t<div data-elementor-type=\"wp-post\" data-elementor-id=\"555\" class=\"elementor elementor-555\" data-elementor-post-type=\"post\">\n\t\t\t\t\t\t<section class=\"elementor-section elementor-top-section elementor-element elementor-element-186711ad elementor-section-boxed elementor-section-height-default elementor-section-height-default\" data-id=\"186711ad\" data-element_type=\"section\">\n\t\t\t\t\t\t<div class=\"elementor-container elementor-column-gap-default\">\n\t\t\t\t\t<div class=\"elementor-column elementor-col-100 elementor-top-column elementor-element elementor-element-155bf6db\" data-id=\"155bf6db\" data-element_type=\"column\">\n\t\t\t<div class=\"elementor-widget-wrap elementor-element-populated\">\n\t\t\t\t\t\t<div class=\"elementor-element elementor-element-4fd4e2f1 elementor-widget elementor-widget-text-editor\" data-id=\"4fd4e2f1\" data-element_type=\"widget\" data-widget_type=\"text-editor.default\">\n\t\t\t\t<div class=\"elementor-widget-container\">\n\t\t\t<style>\/*! elementor - v3.21.0 - 08-05-2024 *\/\n.elementor-widget-text-editor.elementor-drop-cap-view-stacked .elementor-drop-cap{background-color:#69727d;color:#fff}.elementor-widget-text-editor.elementor-drop-cap-view-framed .elementor-drop-cap{color:#69727d;border:3px solid;background-color:transparent}.elementor-widget-text-editor:not(.elementor-drop-cap-view-default) .elementor-drop-cap{margin-top:8px}.elementor-widget-text-editor:not(.elementor-drop-cap-view-default) .elementor-drop-cap-letter{width:1em;height:1em}.elementor-widget-text-editor .elementor-drop-cap{float:left;text-align:center;line-height:1;font-size:50px}.elementor-widget-text-editor .elementor-drop-cap-letter{display:inline-block}<\/style>\t\t\t\t<!-- wp:html -->\n<p>Hoje vamos falar um pouco da import\u00e2ncia do dia Nacional das Tradi\u00e7\u00f5es das Ra\u00edzes de Matrizes Africanas e Na\u00e7\u00f5es do Candombl\u00e9.<\/p>\n<p>As religi\u00f5es de matriz africana chegaram ao brasil junto com os povos escravizados retirados da \u00c1frica para suprirem a m\u00e3o de obra no Brasil trazidos pelos colonizadores portugueses.<\/p>\n<p>Sodr\u00e9 (2017) um dos principais historiadores do s\u00e9culo XX, afirma em seu livro Pensar Nag\u00f4 que o Brasil foi comprovadamente o maior comprador de escravizados das Am\u00e9ricas e segundo Maur\u00edcio (2014, p. 32), em seu livro O candombl\u00e9 bem explicado, do s\u00e9culo XVI at\u00e9 o s\u00e9culo XIX, africanos de diversos grupos \u00e9tnicos e culturais, muitas vezes rivais, foram capturados e trazidos para o Brasil como escravizados. Entre os grupos que vieram para o Brasil estavam os bantos, os fons, os iorub\u00e1s e os minas. Durante os 300 anos que duraram a escravid\u00e3o n\u00e3o foi poss\u00edvel mensurar o n\u00famero exato de africanos que foram trazidos para a Am\u00e9rica. De acordo com Caputo (2012, p. 40):<\/p>\n<p>Quinze milh\u00f5es de pessoas, de diferentes regi\u00f5es da \u00c1frica, que traziam suas rela\u00e7\u00f5es com a vida, a morte, as pessoas, a natureza, a palavra, a fam\u00edlia, o sexo, a ancestralidade, Deus, deuses, as energias, a arte, a comida, o tempo e a educa\u00e7\u00e3o. Enfim, com as suas formas de ver, pensar, sentir, falar e agir no mundo. Espalhadas assim formaram o que se chama de di\u00e1spora africana, ou seja, os negros que, nesse caso, sequestrados das suas terras, levaram consigo as suas tradi\u00e7\u00f5es, mantendo-as e recriando-as no mundo, inclusive no Brasil.<\/p>\n<div class=\"wp-block-image\">\u00a0<\/div>\n<p>E atrav\u00e9s da f\u00e9 os africanos encontraram for\u00e7a para resistir a crueldade do sistema escravagista e dos prop\u00f3sitos impostos pela domina\u00e7\u00e3o colonial\u00b9. Para Eug\u00eanio (2017, p. 44), as popula\u00e7\u00f5es submetidas \u00e0 escravid\u00e3o e ao genoc\u00eddio elaboraram mecanismos de sobreviv\u00eancia. E entre todos os mecanismos de sobreviv\u00eancia, a religi\u00e3o passada atrav\u00e9s da oralidade foi crucial para manter vivas as tradi\u00e7\u00f5es de origem africana. O culto aos orix\u00e1s chegou ao Brasil juntamente com os africanos que atravessaram o Atl\u00e2ntico e foram escravizados aqui na Am\u00e9rica portuguesa. Do encontro cultural entre os elementos das tr\u00eas matrizes formadoras da sociedade brasileira \u2013 \u00edndio, africano e europeu -, surgiram \u00e0s chamadas religi\u00f5es afro-brasileiras, entre as quais podemos citar: candombl\u00e9, candombl\u00e9 de caboclo, umbanda, quimbanda, tambor de mina, jurema, omoloc\u00f4, umbandombl\u00e9, entre outras. Segundo Berkenbrock (2012, p. 62) do ponto de vista hist\u00f3rico, a \u00c1frica \u00e9 o campo de origem e o Brasil o campo de desenvolvimento das religi\u00f5es afro-brasileiras. J\u00e1 Eug\u00eanio (2017, p. 172) ressalta que a terra m\u00e3e foi recriada em cada terreiro. No modo de vida, nos costumes, na mem\u00f3ria e na cultura a \u00c1frica revive. As religi\u00f5es africanas formam a base teol\u00f3gica a partir do qual se desenvolveram as religi\u00f5es afro-brasileiras.<\/p>\n<p><a href=\"https:\/\/rmconsulting.com.br\/#_ftn1\">[1]<\/a> A di\u00e1spora africana est\u00e1 encruzada ao projeto colonial, que \u00e9 um acontecimento marcado pela trag\u00e9dia das humilha\u00e7\u00f5es, sequestros, assassinatos, estupros, torturas, com\u00e9rcio de seres humanos, entre outras in\u00fameras formas de viol\u00eancias praticadas nos tr\u00e2nsitos que edificaram o Novo Mundo. Essa inven\u00e7\u00e3o \u00e9 parte integrante do colonialismo, n\u00e3o h\u00e1 possibilidade de separa\u00e7\u00e3o, \u00e9 resultado de um cruzo que faz espiral do tempo girar em um rito de morte e vida (RUFINO, 2019, p. 97).<\/p>\n<p>E ap\u00f3s todos esses anos, apesar do Brasil ser constitucionalmente um Estado laico que prega a liberdade religiosa, conforme a constitui\u00e7\u00e3o de 1988, os casos de intoler\u00e2ncia religiosa v\u00eam tomando uma propor\u00e7\u00e3o alarmante, conforme dados estat\u00edsticos a maioria dos ataques s\u00e3o cometidos por adeptos de religi\u00f5es neopentecostais conforme aponta o disque den\u00fancia, que no ano 2022 registou tr\u00eas queixas de intoler\u00e2ncia religiosa por dia, chegando num total de 545 den\u00fancias no pa\u00eds. Ainda sob a \u00e9gide do preconceito, apenas 0,3% da popula\u00e7\u00e3o brasileira se declarar integrante de religi\u00e3o de matriz africana, segundo o \u00faltimo censo de 2010 <a href=\"https:\/\/rmconsulting.com.br\/#_ftn2\">[2]<\/a>Instituto Brasileiro de Geografia e Estat\u00edstica (IBGE), devido ao medo de sofrer ataques ou sofrer retalia\u00e7\u00f5es.<\/p>\n<p>O projeto de lei do Dia Nacional das Tradi\u00e7\u00f5es das Ra\u00edzes de Matrizes Africanas e Na\u00e7\u00f5es do Candombl\u00e9 surgiu em 2015, com o intuito de p\u00f4r fim a hostilidade sofrida pelos adeptos das religi\u00f5es de matriz africana principalmente o candombl\u00e9, que inicialmente foi proibida por muitos governos e considerada como ato criminoso, onde seus praticantes sofreram at\u00e9 pris\u00f5es efetuadas pela pol\u00edcia.\u00a0<\/p>\n<p>No dia 05 de janeiro de 2023, foi sancionada a <a href=\"https:\/\/www2.camara.gov.br\/legin\/fed\/lei\/2023\/lei-14519-5-janeiro-2023-793667-norma-pl.html\">Lei 14.519\/23<\/a>, que institui o Dia Nacional das Tradi\u00e7\u00f5es das Ra\u00edzes de Matrizes Africanas e Na\u00e7\u00f5es do Candombl\u00e9, a ser comemorado anualmente no dia 21 de mar\u00e7o, data internacionalmente conhecida como o Dia contra Discrimina\u00e7\u00e3o Racial, institu\u00edda pela Organiza\u00e7\u00e3o das Na\u00e7\u00f5es Unidas (ONU) em 1966.\u00a0<\/p>\n<p>No Brasil, intoler\u00e2ncia religiosa \u00e9 crime previsto em lei, de acordo com o C\u00f3digo Penal brasileiro, Decreto-Lei n\u00famero 2.848, em seu artigo 208 do C\u00f3digo Penal traz na lei estrita: Escarnecer de algu\u00e9m publicamente, por motivo de cren\u00e7a ou fun\u00e7\u00e3o religiosa; impedir ou perturbar cerim\u00f4nia ou pratica de culto religioso; injuriar ou difamar publicamente religi\u00e3o, entidade religiosa, ato ou objeto de culto religioso. Pena: Deten\u00e7\u00e3o de dois a quatro anos e multa.<\/p>\n<p>A intoler\u00e2ncia religiosa \u00e9 considerada uma forma de viol\u00eancia de car\u00e1ter f\u00edsico ou simb\u00f3lico, \u00e9 um ato de discrimina\u00e7\u00e3o, ofensa e agress\u00e3o \u00e0s pessoas por causa de sua cren\u00e7a e pr\u00e1tica religiosa. Especificamente no Brasil essa intoler\u00e2ncia est\u00e1 diretamente relacionada com o racismo religioso, sendo uma viol\u00eancia praticada em maior grau contra os praticantes das religi\u00f5es de matrizes africanas. Temos o Dia Nacional de Combate \u00e0 Intoler\u00e2ncia Religiosa institu\u00eddo por meio da\u00a0<a href=\"https:\/\/www.planalto.gov.br\/ccivil_03\/_ato2007-2010\/2007\/lei\/l11635.htm\" target=\"_blank\" rel=\"noopener\">Lei 11.635, de 2007<\/a>, durante a segunda gest\u00e3o do atual governo, comemorado em 21 de janeiro em mem\u00f3ria de Gild\u00e1sia dos Santos\u00a0 Iyalorix\u00e1 baiana, que teve sua casa e terreiro invadidos por um grupo fundamentalista, e agora temos o dia 21 de mar\u00e7o para dar voz, visibilidade e respeito, para combater o racismo religioso de forma s\u00e9ria e concreta. \u00a0Precisamos levar para o di\u00e1logo sempre, pois mesmo com uma lei promulgada em 2007, os casos de intoler\u00e2ncia s\u00f3 aumentam neste pa\u00eds tanto que se fez necess\u00e1rio a promulga\u00e7\u00e3o do dia Nacional das Tradi\u00e7\u00f5es das Ra\u00edzes de Matrizes Africanas e Na\u00e7\u00f5es do Candombl\u00e9. E se ap\u00f3s este grande marco os n\u00fameros de den\u00fancias n\u00e3o ca\u00edrem drasticamente, ser\u00e1 necess\u00e1rio rever a rota e implantar sans\u00f5es penais mais severas.<\/p>\n<p>Estamos num pa\u00eds livre onde podemos escolher o que vamos seguir e a religi\u00e3o que vamos cultuar.<\/p>\n<p>Refer\u00eancias Bibliogr\u00e1ficas<\/p>\n<p>BERKENBROCK, Volney. <strong>A experi\u00eancia dos orix\u00e1s<\/strong>: Um estudo sobre a experi\u00eancia religiosa no candombl\u00e9. Petr\u00f3polis: Editora Vozes, 2012.<\/p>\n<p>CARNEIRO, Abimael Gon\u00e7alves. <strong>Intoler\u00e2ncia religiosa contra as religi\u00f5es afrobrasileiras: uma viol\u00eancia hist\u00f3rica. <\/strong>In: IX Jornada Internacional de Pol\u00edtica P\u00fablica, S\u00e3o Lu\u00eds, 2019, p. 1-12. Dispon\u00edvel em: https:\/\/docplayer.com.br\/171578143- Intolerancia-religiosa-contra-as-religoes-afro-brasileiras-uma-violencia-historica.html. Acesso em: 17 fev. 2023.<\/p>\n<p>CAPUTO, Stela Guedes. <strong>Educa\u00e7\u00e3o nos terreiros:<\/strong> e como a escola se relaciona com crian\u00e7as de candombl\u00e9. Rio de Janeiro: Pallas, 2012.<\/p>\n<p>EUG\u00caNIO, Rodney William. <strong>A ben\u00e7\u00e3o aos mais velhos<\/strong>: poder e senioridade nos terreiros de Candombl\u00e9. Mairipor\u00e3: Arole Cultural, 2017.<\/p>\n<p>GIUMBELLI, Emerson. <strong>Um projeto de cristianismo hegem\u00f4nico.<\/strong> (Org). SILVA, Vagner Gon\u00e7alves. In: Intoler\u00e2ncia Religiosa: impactos do neopentecostalismo no campo religioso afro-brasileiro. S\u00e3o Paulo: Editora da Universidade de S\u00e3o Paulo. 2007, p. 149-170.<\/p>\n<p>MARIANO, Ricardo. <strong>Pentecostais em a\u00e7\u00e3o: a demoniza\u00e7\u00e3o dos cultos afrobrasileiros<\/strong>. (Org). SILVA, Vagner Gon\u00e7alves, In: Intoler\u00e2ncia Religiosa: impactos do neopentecostalismo no campo religioso afro-brasileiro. S\u00e3o Paulo: Editora da Universidade de S\u00e3o Paulo. 2007, p. 119-147.<\/p>\n<p>MAUR\u00cdCIO, George. <strong>O candombl\u00e9 bem explicado<\/strong>: Na\u00e7\u00f5es Bantu, Iorub\u00e1 e Fon. Rio de Janeiro: Pallas, 2014.<\/p>\n<p>NOGUEIRA, Sidney. <strong>Intoler\u00e2ncia religiosa<\/strong>. S\u00e3o Paulo: P\u00f3len, 2020.<\/p>\n<p>RUFINO, Luiz. <strong>Pedagogia das encruzilhadas<\/strong>. Rio de Janeiro: M\u00f3rula editorial, 2019.<\/p>\n<p>RUFINO, Luiz; MIRANDA, Marina Santos de<strong>. Racismo Religioso: Pol\u00edtica, Terrorismo e Trauma Colonial. <\/strong>Outras Leituras sobre o problema. Problemata, v. 10, n. 2, 2019, p. 229-242.<\/p>\n<p><a href=\"https:\/\/rmconsulting.com.br\/#_ftnref1\">[1]<\/a> Sacrilegens, Juiz de Fora, v. 18, n. 1, p. 30-46, jan-jun \/ 2021.<\/p>\n<p><a href=\"https:\/\/rmconsulting.com.br\/#_ftnref2\">[2]<\/a> https:\/\/cidades.ibge.gov.br\/brasil\/pesquisa\/23\/22107<\/p>\n<p><strong>Dia Nacional das Tradi\u00e7\u00f5es das Ra\u00edzes de Matrizes Africanas e Na\u00e7\u00f5es do Candombl\u00e9<\/strong><\/p>\n<p>Hoje vamos falar um pouco da import\u00e2ncia do dia Nacional das Tradi\u00e7\u00f5es das Ra\u00edzes de Matrizes Africanas e Na\u00e7\u00f5es do Candombl\u00e9.<\/p>\n<p>As religi\u00f5es de matriz africana chegaram ao brasil junto com os povos escravizados retirados da \u00c1frica para suprirem a m\u00e3o de obra no Brasil trazidos pelos colonizadores portugueses.<\/p>\n<p>Sodr\u00e9 (2017) um dos principais historiadores do s\u00e9culo XX, afirma em seu livro Pensar Nag\u00f4 que o Brasil foi comprovadamente o maior comprador de escravizados das Am\u00e9ricas e segundo Maur\u00edcio (2014, p. 32), em seu livro O candombl\u00e9 bem explicado, do s\u00e9culo XVI at\u00e9 o s\u00e9culo XIX, africanos de diversos grupos \u00e9tnicos e culturais, muitas vezes rivais, foram capturados e trazidos para o Brasil como escravizados. Entre os grupos que vieram para o Brasil estavam os bantos, os fons, os iorub\u00e1s e os minas. Durante os 300 anos que duraram a escravid\u00e3o n\u00e3o foi poss\u00edvel mensurar o n\u00famero exato de africanos que foram trazidos para a Am\u00e9rica. De acordo com Caputo (2012, p. 40):<\/p>\n<p>Quinze milh\u00f5es de pessoas, de diferentes regi\u00f5es da \u00c1frica, que traziam suas rela\u00e7\u00f5es com a vida, a morte, as pessoas, a natureza, a palavra, a fam\u00edlia, o sexo, a ancestralidade, Deus, deuses, as energias, a arte, a comida, o tempo e a educa\u00e7\u00e3o. Enfim, com as suas formas de ver, pensar, sentir, falar e agir no mundo. Espalhadas assim formaram o que se chama de di\u00e1spora africana, ou seja, os negros que, nesse caso, sequestrados das suas terras, levaram consigo as suas tradi\u00e7\u00f5es, mantendo-as e recriando-as no mundo, inclusive no Brasil.<\/p>\n<p>E atrav\u00e9s da f\u00e9 os africanos encontraram for\u00e7a para resistir a crueldade do sistema escravagista e dos prop\u00f3sitos impostos pela domina\u00e7\u00e3o colonial\u00b9. Para Eug\u00eanio (2017, p. 44), as popula\u00e7\u00f5es submetidas \u00e0 escravid\u00e3o e ao genoc\u00eddio elaboraram mecanismos de sobreviv\u00eancia. E entre todos os mecanismos de sobreviv\u00eancia, a religi\u00e3o passada atrav\u00e9s da oralidade foi crucial para manter vivas as tradi\u00e7\u00f5es de origem africana. O culto aos orix\u00e1s chegou ao Brasil juntamente com os africanos que atravessaram o Atl\u00e2ntico e foram escravizados aqui na Am\u00e9rica portuguesa. Do encontro cultural entre os elementos das tr\u00eas matrizes formadoras da sociedade brasileira \u2013 \u00edndio, africano e europeu -, surgiram \u00e0s chamadas religi\u00f5es afro-brasileiras, entre as quais podemos citar: candombl\u00e9, candombl\u00e9 de caboclo, umbanda, quimbanda, tambor de mina, jurema, omoloc\u00f4, umbandombl\u00e9, entre outras. Segundo Berkenbrock (2012, p. 62) do ponto de vista hist\u00f3rico, a \u00c1frica \u00e9 o campo de origem e o Brasil o campo de desenvolvimento das religi\u00f5es afro-brasileiras. J\u00e1 Eug\u00eanio (2017, p. 172) ressalta que a terra m\u00e3e foi recriada em cada terreiro. No modo de vida, nos costumes, na mem\u00f3ria e na cultura a \u00c1frica revive. As religi\u00f5es africanas formam a base teol\u00f3gica a partir do qual se desenvolveram as religi\u00f5es afro-brasileiras.<\/p>\n<p><a href=\"https:\/\/rmconsulting.com.br\/#_ftn1\">[1]<\/a> A di\u00e1spora africana est\u00e1 encruzada ao projeto colonial, que \u00e9 um acontecimento marcado pela trag\u00e9dia das humilha\u00e7\u00f5es, sequestros, assassinatos, estupros, torturas, com\u00e9rcio de seres humanos, entre outras in\u00fameras formas de viol\u00eancias praticadas nos tr\u00e2nsitos que edificaram o Novo Mundo. Essa inven\u00e7\u00e3o \u00e9 parte integrante do colonialismo, n\u00e3o h\u00e1 possibilidade de separa\u00e7\u00e3o, \u00e9 resultado de um cruzo que faz espiral do tempo girar em um rito de morte e vida (RUFINO, 2019, p. 97).<\/p>\n<p>E ap\u00f3s todos esses anos, apesar do Brasil ser constitucionalmente um Estado laico que prega a liberdade religiosa, conforme a constitui\u00e7\u00e3o de 1988, os casos de intoler\u00e2ncia religiosa v\u00eam tomando uma propor\u00e7\u00e3o alarmante, conforme dados estat\u00edsticos a maioria dos ataques s\u00e3o cometidos por adeptos de religi\u00f5es neopentecostais conforme aponta o disque den\u00fancia, que no ano 2022 registou tr\u00eas queixas de intoler\u00e2ncia religiosa por dia, chegando num total de 545 den\u00fancias no pa\u00eds. Ainda sob a \u00e9gide do preconceito, apenas 0,3% da popula\u00e7\u00e3o brasileira se declarar integrante de religi\u00e3o de matriz africana, segundo o \u00faltimo censo de 2010 <a href=\"https:\/\/rmconsulting.com.br\/#_ftn2\">[2]<\/a>Instituto Brasileiro de Geografia e Estat\u00edstica (IBGE), devido ao medo de sofrer ataques ou sofrer retalia\u00e7\u00f5es.<\/p>\n<p>O projeto de lei do Dia Nacional das Tradi\u00e7\u00f5es das Ra\u00edzes de Matrizes Africanas e Na\u00e7\u00f5es do Candombl\u00e9 surgiu em 2015, com o intuito de p\u00f4r fim a hostilidade sofrida pelos adeptos das religi\u00f5es de matriz africana principalmente o candombl\u00e9, que inicialmente foi proibida por muitos governos e considerada como ato criminoso, onde seus praticantes sofreram at\u00e9 pris\u00f5es efetuadas pela pol\u00edcia.\u00a0<\/p>\n<p>No dia 05 de janeiro de 2023, foi sancionada a <a href=\"https:\/\/www2.camara.gov.br\/legin\/fed\/lei\/2023\/lei-14519-5-janeiro-2023-793667-norma-pl.html\">Lei 14.519\/23<\/a>, que institui o Dia Nacional das Tradi\u00e7\u00f5es das Ra\u00edzes de Matrizes Africanas e Na\u00e7\u00f5es do Candombl\u00e9, a ser comemorado anualmente no dia 21 de mar\u00e7o, data internacionalmente conhecida como o Dia contra Discrimina\u00e7\u00e3o Racial, institu\u00edda pela Organiza\u00e7\u00e3o das Na\u00e7\u00f5es Unidas (ONU) em 1966.\u00a0<\/p>\n<p>No Brasil, intoler\u00e2ncia religiosa \u00e9 crime previsto em lei, de acordo com o C\u00f3digo Penal brasileiro, Decreto-Lei n\u00famero 2.848, em seu artigo 208 do C\u00f3digo Penal traz na lei estrita: Escarnecer de algu\u00e9m publicamente, por motivo de cren\u00e7a ou fun\u00e7\u00e3o religiosa; impedir ou perturbar cerim\u00f4nia ou pratica de culto religioso; injuriar ou difamar publicamente religi\u00e3o, entidade religiosa, ato ou objeto de culto religioso. Pena: Deten\u00e7\u00e3o de dois a quatro anos e multa.<\/p>\n<p>A intoler\u00e2ncia religiosa \u00e9 considerada uma forma de viol\u00eancia de car\u00e1ter f\u00edsico ou simb\u00f3lico, \u00e9 um ato de discrimina\u00e7\u00e3o, ofensa e agress\u00e3o \u00e0s pessoas por causa de sua cren\u00e7a e pr\u00e1tica religiosa. Especificamente no Brasil essa intoler\u00e2ncia est\u00e1 diretamente relacionada com o racismo religioso, sendo uma viol\u00eancia praticada em maior grau contra os praticantes das religi\u00f5es de matrizes africanas. Temos o Dia Nacional de Combate \u00e0 Intoler\u00e2ncia Religiosa institu\u00eddo por meio da\u00a0<a href=\"https:\/\/www.planalto.gov.br\/ccivil_03\/_ato2007-2010\/2007\/lei\/l11635.htm\" target=\"_blank\" rel=\"noopener\">Lei 11.635, de 2007<\/a>, durante a segunda gest\u00e3o do atual governo, comemorado em 21 de janeiro em mem\u00f3ria de Gild\u00e1sia dos Santos\u00a0 Iyalorix\u00e1 baiana, que teve sua casa e terreiro invadidos por um grupo fundamentalista, e agora temos o dia 21 de mar\u00e7o para dar voz, visibilidade e respeito, para combater o racismo religioso de forma s\u00e9ria e concreta. \u00a0Precisamos levar para o di\u00e1logo sempre, pois mesmo com uma lei promulgada em 2007, os casos de intoler\u00e2ncia s\u00f3 aumentam neste pa\u00eds tanto que se fez necess\u00e1rio a promulga\u00e7\u00e3o do dia Nacional das Tradi\u00e7\u00f5es das Ra\u00edzes de Matrizes Africanas e Na\u00e7\u00f5es do Candombl\u00e9. E se ap\u00f3s este grande marco os n\u00fameros de den\u00fancias n\u00e3o ca\u00edrem drasticamente, ser\u00e1 necess\u00e1rio rever a rota e implantar sans\u00f5es penais mais severas.<\/p>\n<p>Estamos num pa\u00eds livre onde podemos escolher o que vamos seguir e a religi\u00e3o que vamos cultuar.<\/p>\n<p>Refer\u00eancias Bibliogr\u00e1ficas<\/p>\n<p>BERKENBROCK, Volney. <strong>A experi\u00eancia dos orix\u00e1s<\/strong>: Um estudo sobre a experi\u00eancia religiosa no candombl\u00e9. Petr\u00f3polis: Editora Vozes, 2012.<\/p>\n<p>CARNEIRO, Abimael Gon\u00e7alves. <strong>Intoler\u00e2ncia religiosa contra as religi\u00f5es afrobrasileiras: uma viol\u00eancia hist\u00f3rica. <\/strong>In: IX Jornada Internacional de Pol\u00edtica P\u00fablica, S\u00e3o Lu\u00eds, 2019, p. 1-12. Dispon\u00edvel em: https:\/\/docplayer.com.br\/171578143- Intolerancia-religiosa-contra-as-religoes-afro-brasileiras-uma-violencia-historica.html. Acesso em: 17 fev. 2023.<\/p>\n<p>CAPUTO, Stela Guedes. <strong>Educa\u00e7\u00e3o nos terreiros:<\/strong> e como a escola se relaciona com crian\u00e7as de candombl\u00e9. Rio de Janeiro: Pallas, 2012.<\/p>\n<p>EUG\u00caNIO, Rodney William. <strong>A ben\u00e7\u00e3o aos mais velhos<\/strong>: poder e senioridade nos terreiros de Candombl\u00e9. Mairipor\u00e3: Arole Cultural, 2017.<\/p>\n<p>GIUMBELLI, Emerson. <strong>Um projeto de cristianismo hegem\u00f4nico.<\/strong> (Org). SILVA, Vagner Gon\u00e7alves. In: Intoler\u00e2ncia Religiosa: impactos do neopentecostalismo no campo religioso afro-brasileiro. S\u00e3o Paulo: Editora da Universidade de S\u00e3o Paulo. 2007, p. 149-170.<\/p>\n<p>MARIANO, Ricardo. <strong>Pentecostais em a\u00e7\u00e3o: a demoniza\u00e7\u00e3o dos cultos afrobrasileiros<\/strong>. (Org). SILVA, Vagner Gon\u00e7alves, In: Intoler\u00e2ncia Religiosa: impactos do neopentecostalismo no campo religioso afro-brasileiro. S\u00e3o Paulo: Editora da Universidade de S\u00e3o Paulo. 2007, p. 119-147.<\/p>\n<p>MAUR\u00cdCIO, George. <strong>O candombl\u00e9 bem explicado<\/strong>: Na\u00e7\u00f5es Bantu, Iorub\u00e1 e Fon. Rio de Janeiro: Pallas, 2014.<\/p>\n<p>NOGUEIRA, Sidney. <strong>Intoler\u00e2ncia religiosa<\/strong>. S\u00e3o Paulo: P\u00f3len, 2020.<\/p>\n<p>RUFINO, Luiz. <strong>Pedagogia das encruzilhadas<\/strong>. Rio de Janeiro: M\u00f3rula editorial, 2019.<\/p>\n<p>RUFINO, Luiz; MIRANDA, Marina Santos de<strong>. Racismo Religioso: Pol\u00edtica, Terrorismo e Trauma Colonial. <\/strong>Outras Leituras sobre o problema. Problemata, v. 10, n. 2, 2019, p. 229-242.<\/p>\n<p><a href=\"https:\/\/rmconsulting.com.br\/#_ftnref1\">[1]<\/a> Sacrilegens, Juiz de Fora, v. 18, n. 1, p. 30-46, jan-jun \/ 2021.<\/p>\n<p><a href=\"https:\/\/rmconsulting.com.br\/#_ftnref2\">[2]<\/a> https:\/\/cidades.ibge.gov.br\/brasil\/pesquisa\/23\/22107<\/p>\n<p>\u00a0<\/p>\n<!-- \/wp:html -->\t\t\t\t\t\t<\/div>\n\t\t\t\t<\/div>\n\t\t\t\t\t<\/div>\n\t\t<\/div>\n\t\t\t\t\t<\/div>\n\t\t<\/section>\n\t\t\t\t<\/div>\n\t\t","protected":false},"excerpt":{"rendered":"<p>Hoje vamos falar um pouco da import\u00e2ncia do dia Nacional das Tradi\u00e7\u00f5es das Ra\u00edzes de Matrizes Africanas e Na\u00e7\u00f5es do Candombl\u00e9. As religi\u00f5es de matriz africana chegaram ao brasil junto com os povos escravizados retirados da \u00c1frica para suprirem a m\u00e3o de obra no Brasil trazidos pelos colonizadores portugueses. 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